“Um gladiador velho e cansado abandona Roma…
pelas ruas, uma garota carioca veste-se com imagens e objetos para o carnaval.
Dentro das mascaras, imagens que flutuam,
Afluentis” 

Sobre Afluentis

Dizemos de um nome próprio que ele é pessoal e intransferível. Dos nomes, reservamos os próprios para os seres singulares, para aquilo que da vida é único, para aquilo que da própria multiplicidade da vida se quer insubstituível, e que se deixa reconhecer por essa marca: pessoas, cidades, coisas que o afeto deu personalidade, nomes que escapam aos gêneros e ao comum. 

Tão pessoal quanto um nome próprio, Afluentis, este filme feito a quatro mãos, dois continentes, duas cidades e duas trajetórias, se lança à aventura de inventar o seu gênero, para além ou aquém dos gêneros com que a gramática cinematográfica organiza os seus rótulos. Desde o seu título, Afluentis, “afluentes” é português, affluenti em italiano. Em que ponto entre o português e o italiano esta palavra híbrida habita?

Cidades tem nome, assim como pessoas. Pessoas têm rostos, histórias de vida. Brincando no tempo e no movimento das imagens, o cinema tanto pode falar a língua dos sonhos quanto pretender retratar a mais real das realidades. Talvez o grande mérito de Afluentis tenha sido preservar essa ambigüidade, fazendo dela, talvez, o seu grande tema, e com essa operação ter logrado resgatar aquilo que na aparência da singularidade é hoje em dia apenas o disfarce de uma realidade que se perde numa rede genérica e homogênea de significados.

Em Afluentis, partimos de cidades com nome e renome, Roma e Rio de Janeiro, cidades cuja realidade se afirma a partir de lugares comuns construídos como um cartão postal para o olhar do estrangeiro: o Rio da praia, da favela e do carnaval; a Roma das ruínas, das fontes e dos gladiadores. Nessa paisagem hiper-territorializada do imaginário globalizado, dois personagens, duas personas, cujas máscaras sem nome traduzem à perfeição a imagem industrializada dessas cidades “cenográficas” : o pseudo-gladiador de fotografia que dá corpo à fantasia dos turistas, e a menina que cata lixo no cenário tropical deslumbrante, como a nota de “realidade” numa paisagem que, mesmo sem o auxílio do carnaval, parece por si mesma tender sempre para a irrealidade.

Mas não são personagens estáticas, elas estão em trânsito, estão a caminho. Ambas, à distância, parecem desde sempre se encaminhar para um objetivo, algum lugar dentro-fora dessa cenografia que, paradoxalmente, elas parecem ao mesmo tempo encarnar. É nesse percurso cada vez mais para dentro e para longe de seus lugares-comuns que as personagens, com a leveza que só o cinema como arte do tempo parece lograr, que suas trajetórias começam a forjar essa terceira margem de um Afluentis, de um sonho tecido nas ruínas de duas realidades que aos poucos perdem as suas máscaras. Quem sonha e quem é sonhado? O que é real e o que é sonho? Perguntas impertinentes, pois a aventura consiste não em fixar esses pólos, mas em surpreender a sua dança que a dança que dá forma a vida e dá nome a núcleo mais próprio das pessoas, das coisas e das paisagens. Boa viagem.

 

Daniel Bueno.

Date:
Roteiro, produção e direção:
Rodrigo Savastano e Ram Pace
Atores:
Tati Marques e Franco de Vitis
Fotografia e câmera:
Tom Bennet e Dante Belluti
Câmera:
Ram Pace, Raoul Garcia e Valentina Summa
Som direto:
Beatricce Spighetti e Bruno Espírito-Santo
Direção de arte e figurino:
Lívia Diniz
Montagem e correção de cor:
Rodrigo Savastano
Desenho, edição de som e mixagem:
Edson Secco
Exibições

– CortoPotere Shortfilm Festival – Bérgamo – Novembro 2009

– Cine BH – Belo Horizonte – Outubro 2009

– TekFestival – Roma – Abril 2009

– Festival Internazionale del Cinema di Frontiera (Italia) – Junho 2009

– Festival Curta Cinema – Rio de Janeiro – Novembro 2008

– Festival Del Cinema Indipendente – Foggia – Novembro 2008

– Cine Esquema Novo – Porto Alegre – Outubro de 2008.

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